18/06/2015 - Por: CREMERJ
A equipe multidisciplinar do hospital é pioneira neste tratamento
O Hospital Placi, que há dois anos aposta em terapias alternativas para tratarpacientes com doenças crônicas e/ou degenerativas, investe agora no projeto Dó, Ré, Mi, Placi: uma integração musical, que viabiliza aos pacientes em cuidados paliativos e em reabilitação, o resgate de sua individualidade. A técnica, implementada pela coordenadora do Dept. de Psicologia do hospital, Paula Camargo, segue as ações planejadas com base no conceito exclusivo do hospital, de cuidados extensivos.
Através da música, a equipe multidisciplinar do hospital localizado em Niterói potencializa as capacidades mentais preservadas e readapta o paciente à sua nova realidade, dentro de um contexto social. Além disto, a proposta também visa promover uma integração entre todos os envolvidos nos cuidados com paciente, como por exemplo, familiares, cuidadores e equipe multidisciplinar. Os resultados da introdução deste tipo de terapia já podem ser mensurados. A mesma equipe foi responsável por momentos marcantes na vida dos pacientes, como a alta de um deles após progressiva melhora estimulada pelas visitas de seu cão de estimação e a felicidade de uma paciente portadora de ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica) ao poder estar presente no casamento de sua filha caçula, realizado nas dependências da instituição.
Os benefícios promovidos contemplam, ainda, o auxílio na manutenção da estabilidade clínica, o fortalecimento da autoestima, a reinserção no contexto social, o estreitamento dos laços entre os componentes do grupo e a existência de um lugar protegido, onde emoções podem ser expressas de forma livre e espontânea. De modo geral, os pacientes aguardam os encontros e muitas vezes questionam quais estilos de música serão tocadas. É interessante perceber que esta expectativa não se restringe apenas ao universo do paciente e seus familiares, mas envolve também a equipe de enfermagem e assistencial, comenta a psicóloga Paula Camargo.
O perfil dos pacientes é similar, a maioria apresenta doenças neurodegenerativas, tais como esclerose lateral amiotrófica (ELA), doença de Alzheimer, síndrome demências com perdas cognitivas leves e/ou moderadas, pacientes com diagnósticos de acidente vascular encefálico (AVE), cardiopatas e pacientes com diagnósticos de doenças do sistema nervoso. Há artigos na área da Psicologia que relacionam o trabalho com a música a alguns traços de personalidade, à minimização de quadros de ansiedade e depressão, bem como redução de estresse. Na área da Neurologia, encontramos estudos recentes que vêm mostrando os benefícios provocados através da estimulação musical. Um trabalho primoroso vem a ser do Dr. Oliver Sacks, em seu livro Alucinações Musicais, onde aborda sobre os efeitos da música na dimensão mental, emocional, física e social, bem como os benefícios de ordem neurológica no que concerne a manutenção da estimulação sináptica de estruturas cerebrais não lesionadas, adiciona a psicóloga.
A proposta musical é também enfatizar os aspectos psicoemocionais. Portanto, a introdução de outras técnicas, como a pintura, desenho ou outros recursos arteterapêuticos, pode acontecer naturalmente e deve ser adaptada ao momento ao qual o paciente se encontra, considerando sua disponibilidade física e emocional. Muitos pacientes, ao atingirem um quadro de estabilidade funcional dentro de suas possibilidades diagnósticas, podem retornar para casa. É preciso levar em consideração os recursos disponíveis para este processo de readaptação. Os familiares e cuidadores devem proporcionar a este paciente um espaço onde todos possam se preparar psiquicamente para esta nova realidade, finaliza Paula.