11/06/2015 - Por: ANAMT

Ausências reiteradas do trabalho, em especial no início da semana, são sinais de que o trabalhador pode ter problemas com álcool e drogas. Dados da Previdência Social mostram que, entre 2009 e 2013, o número de auxílios-doença concedidos por transtornos mentais e comportamentais pelo uso de drogas aumentou mais de 50% no País – o total foi de 49.276 benefícios. Nesse período, os provocados por abuso de álcool cresceram 19,6% e os por cocaína, 84,6%. Com as demais substâncias, elevaram em 40%. Não apenas as chamadas drogas ilícitas, visto que há um crescente abuso e uso indevido de medicamentos no Brasil, muitos comprados no mercado negro.

O uso de droga ou álcool pode afetar a performance do funcionário, com consequências em sua segurança ou dos colegas, em especial, quando o consumo instala-se progressivamente. “No início, a qualidade do trabalho e a produtividade podem estar preservadas. Com o uso frequente e quantidades maiores da substância, o desempenho tende a cair”, explica. Em funções operacionais e de atividades repetidas, o efeito pode ser identificado mais tardiamente, mas as ausências do trabalho podem ser um indicativo a ser avaliado. Nos trabalhos que requerem maior grau de atenção ou cognição, os sinais podem ser identificados mais precocemente. Aqui, no entanto, vale lembrar que outras condições psíquicas podem mimetizar os mesmos sinais de sintomas. Portanto, é necessária uma avaliação mais cuidadosa de cada caso. O uso de substâncias psicoativas, em geral, não combina com nenhuma atividade de trabalho. Por isso, é importante haver prevenção, vigilância e oportunidade de tratamento e reabilitação. Essas medidas incluem ações educativas sobre os efeitos do uso de substâncias psicoativas, em geral, e seus impactos sobre as atividades de trabalho, além de outras dimensões da vida pessoal (familiar, social, financeira, saúde).

O uso do álcool no trabalho ocasiona cerca de 25% dos acidentes do trabalho no mundo. “Avaliações médicas periódicas podem contribuir para reforçar as medidas preventivas, bem como servir como vigilância em saúde do trabalhador, desde que esteja estabelecida uma boa relação entre médico e trabalhadores, a ponto de haver confiança para tratar de um tema sensível e de forma confidencial”.
A observação do desempenho e comportamento, por pares ou mesmo pela supervisão, podem identificar sinais que devam ser devidamente investigados, preferencialmente por profissional de saúde ou por gestores de pessoas habilitados. É importante haver uma política clara que permita buscar ajuda por parte dos indivíduos que tenham problemas com álcool e drogas. Isso cria um ambiente colaborativo, em que as pessoas sintam que podem pedir suporte. Ainda, sob a perspectiva de segurança, é preciso planejar as atividades de maior risco, estabelecendo-se medidas de proteção adequadas aos riscos, incluindo condições para a execução segura de uma tarefa, com supervisão adequada e direito de parada em caso de suspeita de que há risco aumentado por conta do uso de álcool, drogas ou qualquer outra condição semelhante. No Brasil, as empresas lidam de várias formas com o trabalhador que bebe e se droga durante o expediente.

Desde empresas que têm políticas claras sobre o tema, com foco na prevenção e na reabilitação, até empregadores que optam pela demissão, agravando o problema com a questão do desemprego. Cresce o número de empresas que opta pela testagem do uso recente, seja pelos testes de ar expirado (bafômetro) para o álcool, ou pelos exames de urina – ou outros materiais, como saliva, sangue e cabelo – para a detecção do uso de drogas. Nesse grupo de empresas, há ainda as que usam o teste de maneira complementar a uma política de prevenção, enquanto outras os utilizam de maneira desassociada da prevenção e reabilitação. Diferentemente de outros países, o Brasil ainda não definiu uma maneira de lidar com o tema, que seja tecnicamente correta, legal e eticamente adequada.