14/05/2015 - Por: Fundacentro

O cirurgião dentista do trabalho, João Rodolfo Hopp, defendeu a dissertação de mestrado “Interface entre disfunções temporomandibulares e a organização do trabalho em teleoperação: limitações do nexo ocupacional por similaridade e motivos à escamoteação” no Programa de Pós-Graduação Trabalho Saúde e Ambiente, da Fundacentro.

A pesquisa aponta uma possível correlação entre o modelo organizacional prevalente no setor de teleoperações e o desencadeamento ou agravamento das disfunções temporomandibulares - DTMs. Essas doenças são “vinculadas às estruturas musculoesqueléticas da região orofacial, envolvendo ossos maxilares e temporais, mandíbula, musculatura mastigatória e articulações temporomandibulares”.

Os fatores psicossociais podem agravar as DTMs. Assim a interlocução com os saberes da organização do trabalho buscou compreender implicações dos modelos produtivos preconizados e adotados na atualidade nesse tipo de adoecimento. Também se considerou as relações de prazer e sofrimento vivenciadas pelos trabalhadores, a partir do referencial teórico da psicodinâmica do trabalho, desenvolvida por Christophe Dejours.

“Se as normas são menos rígidas, e o trabalhador pode usar a sua subjetividade, o trabalho vai gerar prazer”, explica Hopp. Mas nem sempre o sofrimento, que sempre está presente no trabalho, pode ser transformado em prazer. A organização do trabalho se caracteriza pela flexibilização e precarização. Há enxugamento de quadros e intensificação do trabalho. Pode haver a somatização das cargas emocionais e o adoecimento.

No caso das DTMs, há uma invisibilidade das possíveis relações com o trabalho, que ficam encobertas, por isso o uso do termo “escamoteação”. O pesquisador aponta uma lacuna no acompanhamento da saúde integral dos trabalhadores, em que existe uma ausência do diagnóstico periódico das condições buco-dento-faciais realizado por profissional habilitado como o cirurgião-dentista.

Hopp ainda coloca que as DTMs são compostas por quadros patológicos osteomusculares de múltiplas causas. Há uma relação bidirecional entre fatores sociais, psíquicos e emocionais. Outro dado importante é a maior prevalência em mulheres e entre adultos de 32 e 39 anos.

De acordo com parecer da banca examinadora, o orientando teve capacidade e humildade de forjar um olhar a que não estava acostumado. "Pesquisar é lançar olhar novo sobre algo que está lá o tempo todo".