13/01/2015 - Por: CB/OA Press
A especialista ressalta que, quanto mais soluções preventivas surgirem para as doenças tropicais, maiores serão as chances da redução dos casos de infecção
Pesquisadores do Brasil e do mundo desenvolvem estudos no combate à doenças tropicais que assombram a humanidade há milênios, fazendo uso da biotecnologia, mais especificamente no mapeamento do genoma dos transmissores e no desenvolvimento de vacinas. "Sem dúvidas, esses avanços tecnológicos estão oferecendo alternativas que não eram possíveis até pouco tempo atrás para melhorar nossa aproximação às doenças tropicais", avalia Ricardo Palacios, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento Clínico da Divisão de Ensaios Clínicos e Farmacovigilância do Instituto Butantan.
Palacios é um dos pesquisadores do projeto da vacina contra a dengue desenvolvido no instituto brasileiro. Segundo ele, a busca pela imunização começou há mais de 70 anos. "Ainda na Segunda Guerra Mundial, com os trabalhos, por exemplo, de Albert Sabin, o descobridor da vacina oral da pólio", diz. "Mas ele e muitos outros pesquisadores não tiveram sucesso por causa da complexidade da doença." A dengue pode ser causada por quatro sorotipos de vírus. Por isso, uma vacina completa precisaria ser eficaz contra todos eles. A pesquisa do Butantan está na segunda fase, com voluntários brasileiros. "Estamos confirmando a segurança em pessoas que tiveram ou não dengue e faremos testes adicionais para aferir a resposta de defesa gerada pela imunização", detalha.
O pesquisador conta que os três projetos de vacina para a dengue mais avançados no momento apostam na engenharia genética para criar vírus vacinais atenuados e que são aplicados em testes com seres humanos. "Até o século passado, as tentativas de atenuar os vírus da doença não foram bem-sucedidas." A Sanofir Pasteur busca a imunização que compreende os quatro tipos de vírus da dengue há 20 anos. Um trabalho "cheio de detalhes", segundo Sheila Homsani, gerente do Departamento Médico do laboratório. "É um trabalho difícil porque envolve ainda o mosquito, que sofre mudanças contínuas, difíceis de serem rastreadas e que podem variar conforme o ambiente. Outras doenças, como a de Chagas e a esquistossomose, têm sido alvo de estudos de laboratórios internacionais que também têm sofrido para trabalhar com esse tipo de alteração", conta.
A vacina da Sanofi Pasteur está em fase final de experimentação e apresentou desfechos promissores com crianças na Ásia, uma das regiões que mais sofrem com os casos da doença. "Realizamos testes em crianças com eficácia de até 56%. Em breve, teremos o resultado com participantes que tinham entre 9 e 16 anos na América Latina. Esse é um dos passos necessários, antes do lançamento, para que possamos garantir a eficácia e a segurança da vacina", destaca Homsani.
A especialista ressalta que, quanto mais soluções preventivas surgirem para as doenças tropicais - de preferência mais fáceis de serem adquiridas pela população -, maiores serão as chances da redução dos casos de infecção". Ainda assim, as medidas preventivas não podem ficar apenas no campo da imunização. O mapeamento do DNA dos mosquitos é uma das frentes apontadas por Homsani. "Isso pode servir como intervenção para que o inseto deixe de disseminar o vírus", conclui Sheila.