12/04/2018 - Por: G1

A possibilidade de reforçou ou não sobre a vacina da febre amarela divide entidades (Foto: Reprodução/EPTV)

A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) chegou ao consenso de que um segundo reforço da dose da vacina contra a febre amarela pode ser considerado, principalmente nas crianças vacinadas antes dos dois anos de idade. O entendimento foi proferido na atualização do calendário vacinal para o segundo semestre de 2018 e começo de 2019.

A atualização da entidade é divulgada após reportagem do G1 mostrar que os Estados Unidos também consideram o reforço da dose em situações específicas. A SBIm reúne especialistas periodicamente para definir diretrizes sobre vacinas em todas as idades. Trata-se de um entendimento de médicos -- e não do governo. O Ministério da Saúde toma suas próprias decisões com seu próprio corpo técnico.

Atualmente, a pasta e a Organização Mundial da Saúde estabelecem que basta uma única dose para a proteção para a vida inteira. A diretriz da OMS foi estabelecida em 2013 e, durante muito tempo, o Brasil foi o único país do mundo a recomendar duas doses -- situação que mudou em abril de 2017, quando a demanda sobre a vacina aumentou exponencialmente.

A presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Isabella Ballalai, considera que a posição do Ministério da Saúde foi adequada para o momento, mas explica que a SBIm chegou a conclusão sobre a possibilidade de um reforço por entender que não há estudos suficientes para dizer com absoluta certeza que a vacina proteja pela vida inteira.

Há evidências, porém, de que o imunizante tenha resultados muito duradouros -- e, por isso, não há comprometimento para a proteção no cenário atual.

A principal preocupação da entidade são os estudos que atestam que 20% das crianças vacinadas com menos de dois anos de idade não respondem adequadamente à vacina. Isso significa que, no futuro, poderia ser considerado um reforço para crianças que estão sendo vacinadas agora.

"Nossa principal preocupação não é nem o adulto nesse momento, mas a criança vacinada com menos de dois anos porque já temos dados e estudos sobre a eficácia da vacina nesse grupo", explica Isabella.

Anualmente, a SBIm reúne uma comissão de especialistas e atualiza diretrizes sobre vacinação, com os últimos consensos científicos sobre o assunto. A comissão tem 25 membros. Em última reunião, realizada no final de março, a entidade também considerou que um segundo reforço da dose pode se indicado em situações de risco epidemiológico.

"Não há consenso sobre a duração da proteção conferida pela vacina. De acordo com o risco epidemiológico, uma segunda dose pode ser considerada, em especial para aqueles vacinados antes dos 2 anos de idade, pela maior possibilidade de falha vacinal primária", pontua atualização do calendário vacional.

Como risco epidemiológico, a SBim considera regiões com transmissão ativa da doença. "Isso significa dizer, por exemplo, que moradores da cidade do Rio de Janeiro não precisariam de reforço, mas em Teresópolis, onde há casos e mortes, isso pode ser pensado", explica Isabella.

A posição da entidade sobre o reforço segue entendimento do Centro Controle de Doenças dos Estados Unidos que também considera um reforço da vacina em alguns casos, como em soropositivos para o HIV e viajantes para áreas com transmissão ativa da doença. Por esse motivo, os Estados Unidos também recomendaram que norte-americanos com previsão de viagem a regiões de risco no Brasil considerem um reforço da dose (se passado o período de 10 anos, como era anteriormente por aqui). Os Estados Unidos não exigem que brasileiros que viajem ao país tomem a vacina.


Decisão adequada do Brasil para o contexto e estudos

A Sociedade Brasileira de Imunizações considera que a decisão do Ministério da Saúde foi adequada para a situação de risco, principalmente com a introdução do vírus em regiões muito populosas como São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia.

"A gente tem que entender a situação da febre amarela em um contexto. Uma coisa é os Estados Unidos, que não tem circulação da doença, fazer essa indicação para viajantes. Outra bem diferente é a situação brasileira, que teve uma demanda surpreendente sobre a vacina e tem mais de 200 milhões de habitantes", explica Isabella Ballalai.

A prioridade brasileira foi proteger o máximo de pessoas possível em um curto período de tempo, diz Isabella. Medidas como dispensar o reforço e a adoção da dose fracionada, que é segura e eficaz, foram corretas, completa a especialista.

Apesar da decisão, entretanto, a presidente da SBIm pontua que nem os Estados Unidos, nem a OMS, nem o Ministério da Saúde possuem estudos suficientes para dizer que a vacina protege para a vida inteira. "Não há esse dado, nem em adultos, nem em grupos específicos. Os dados da litetatura são muito poucos", completa.

Em nota, o Ministério da Saúde diz que a dose única só foi adotada após análise de estudos e da consulta a especialistas e entidades médicas, que incluíram a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). A pasta disse ainda que pesquisas, debates e aprimoramento fazem parte das políticas de saúde.

"Ressalta-se que, na área da saúde, estudos científicos são habituais e fazem parte do processo de aprimoramento das políticas de saúde. O Ministério da Saúde tem estudos próprios em andamento para certificação da eficácia da vacina de febre amarela para a vida toda", afirmou a pasta, em nota.

De fato, a pasta e a Fiocruz estão fazendo um estudo independente para atestar a eficácia da vacina a longuíssimo prazo em áreas sem circulação do vírus. O estudo está sendo feito na Paraíba, onde não há transmissão.

O estudo na Paraíba é particularmente importante porque uma questão que tem sido levantada nos estudos avaliados pela Organização Mundial da Saúde é que muitas pesquisas que atestaram a eficácia prolongada do imunizante foram feitas em regiões com circulação do vírus.

O problema com esse aspecto é que muitos vacinados podem ter tido reforço natural da imunidade; com isso, a proteção prolongada pode não ter sido provocada pela vacina tomada anteriormente.