28/04/2016 - Por: Tom Jackson / BBC

O uso da nuvem pode unir esforços de pesquisa ao redor do mundo. (Foto: BBC)

Quando a atriz Angelina Jolie descobriu que carregava uma mutação defeituosa do gene BRCA1, seus médicos disseram que ela tinha 87% de chance de desenvolver câncer de mama.

Foi o suficiente para que a americana optasse por uma dupla mastectomia em 2013 e reduzisse o risco para apenas 5%.

Esse tipo de testagem genética agora pode ser feito mais rapidamente e a preços menores, dando a médicos a capacidade de planejar tratamentos com mais eficiência.

Combinado com a inteligência artificial e a computação em nuvem, o avanço tecnológico deu às companhias farmacêuticas as ferramentas para produzir drogas mais rapidamente e com maior chance de sucesso, bem como a oportunidade de médicos buscarem referência em padrões genéticos semelhantes antes de receitar tratamentos a pacientes com determinados tumores.

Genoma
Um beneficiário dessa nova abordagem é Eric Dishman, fundador do laboratório de pesquisas e inovação na área da saúde da empresa de tecnologia Intel.

Quando tinha 19 anos, Dishman foi diagnosticado com uma forma rara de câncer de rim. Ficou em tratamento por 23 anos e estava prestes a começar a fazer diálise quando uma companhia de tecnologia ofereceu-se para fazer o sequenciamento de seu genoma para ele.

Isso o ajudou a identificar o gene falho causando o câncer. E permitiu que médicos avaliassem quais drogas poderiam ser mais eficazes. Aos 47 anos e em remissão, Dishman está determinado a ajudar outros pacientes de câncer a ter acesso ao mesmo tratamento

"Meus médicos nunca tinham feito qualquer coisa com a sequência genética antes. Descobrimos que 92% das drogas que eu estava tomando não iriam funcionar, mas eles não sabiam disso".

Levou três meses para que os médicos analisassem seu genoma e outros quatro para comparar os resultados com pacientes similares em outros hospitais nos EUA.

Dishman queria acelerar esse processo, então fundou a Nuvem Colaborativa do Câncer (CCC, em inglês), uma iniciativa lançada no ano passado pela Intel em parceria com a Universidade de Ciência e Saúde do Oregon (EUA).

A CCC possibilita a hospitais e instituições de pesquisa compartilhar de forma segura o mapeamento genético de pacientes e outros dados clínicos para ajudar em descobertas possivelmente salvadoras.

"Estamos usando a nuvem de maneira muito diferente. Se você olha ao redor do mundo, os maiores centros de estudos do câncer compartilham dados de forma que pessoas possam colaborar em pesquisas. O problema é que apenas 4% dos dados estão disponíveis".

O objetivo do CCC é trazer os outros 96% para a equação e permitir que hospitais e centros de pesquisa compartilhem informações de maneira mais eficiente para encontrar tratamentos para pacientes com base em como indivíduos com os mesmos padrões genômicos reagiram a certas drogas.

A Intel e a Universidade de Saúde e Ciência de Oregon têm um projeto-piloto em parceria com outras duas instituições de pesquisas sobre o câncer. Mas já há a previsão de que outros 100 centros se juntem ao programa ainda neste ano, e os planos incluem expandir a plataforma internacionalmente. A nuvem pode também ser usada para pesquisar outras doenças baseadas em "genes defeituosos", como a distrofia muscular.

O CCC espera poder mostrar exatamente que drogas podem ser usadas com quais pacientes, mas ainda há outros remédios a serem descobertos. E a computação em nuvem também ajuda nesse processo: a chamada pesquisa in silico usa computadores para modelar e testar moléculas e compostos antes mesmo de eles chegarem a um laboratório do mundo real.

Um exemplo é a companhia Cloud Pharmaceuticals, baseada na Carolina do Norte (EUA), que desenvolveu uma plataforma combinando a computação em nuvem e a inteligência artificial para pesquisar novas matérias-primas para medicamentos.

"A descoberta e o desenvolvimento colaborativo de drogas podem ser gerenciados de forma segura através da nuvem", diz Ed Addison, diretor-executivo da Cloud Pharmaceuticals, para quem a plataforma não apenas pode acelerar o processo mas também diminuir o número de testes em animais.

No Japão, a companhia de tecnologia Fujitsu trabalha com a Universidade de Tóquio para usar a descoberta de drogas baseadas em tecnologia da informação para desenvolver princípios ativos de drogas anticâncer. Dos quatro estágios principais para a chegada de novas drogas no mercado, o segundo é o design e avaliação de síntese. É nessa área que a Fujitsu trabalha.

"A descoberta in silico permite o design de vários componentes que pessoas normalmente não produziriam", Nozomu Kamiya, diretor de sistemas de saúde da Fujitsu. Isso permite à companhia estudar a eficácia de um medicamento antes mesmo de sua existência, segundo Kamiya.