28/08/2015 - Por: ACS Fundacentro / Foto: Edson dos Anjos

Christophe Dejours, psicanalista e psiquiatra francês

“Trabalhar não é somente produzir, mas também transformar-se a si mesmo. Depois do trabalho, eu sou mais inteligente do que antes”. A frase foi dita por Christophe Dejours, psicanalista e psiquiatra francês, que esteve pela primeira vez na última semana em palestra promovida pela UNIFESP, em Santos/SP, lotando o auditório do Sindicato dos Siderúrgicos e Metalúrgicos da Baixada Santista.

Criador da teoria Psicodinâmica do Trabalho, o pesquisador mostrou como a inteligência nasce do enfrentamento com o real. É preciso ultrapassar o prescrito para que o trabalho aconteça. O trabalhador usa para isso o seu saber, a sua experiência e sua inteligência. Há um espaço entre a tarefa e a atividade realizada.

É a analise do trabalho concreto e da experiência do trabalho que devem servir de base para a transformação da organização do trabalho. Também é preciso considerar a dimensão política do trabalho, que continua central nos dias atuais. O poder e a organização precisam ser repensados a partir dessas sugestões que vêm debaixo.

Sofrimento

O sofrimento está presente no trabalho. “O real se faz conhecer àquele que trabalha através do fracasso. Trabalhar é fracassar. Por isso, trabalhar é sempre sofrer. Não há trabalho vivo sem sofrimento. O que está em questão é o destino desse sofrimento. Sofrer no trabalho é inevitável para o operário na linha de montagem, para o médico diante do paciente”, afirma o psiquiatra.

Um dos pontos fundamentais para transformar sofrimento em prazer é o reconhecimento, que vem do julgamento do trabalho e não da pessoa. Há dois tipos de julgamento – o de utilidade (em que se reconhece a utilidade econômica, social ou técnica da contribuição própria do trabalhador) e o de beleza (aquele proferido pelos que conhecem a fundo o trabalho, os colegas, os pares, que possibilita um retorno de pertencimento a um coletivo, a um ofício, a uma comunidade).

Coletivo

O trabalho está totalmente tomado pelas relações com os outros. “É antes de tudo uma relação individual com a matéria, o objeto técnico, o cliente. A gente trabalha para alguém em geral”. Dessa forma, se cada um for inteligente ao seu modo, não vai funcionar. É preciso colocar as inteligências juntas e criar um ambiente de coordenação e cooperação. Por outro lado, há riscos em mostrar como você faz o seu trabalho.

“Em todas as profissões, há reuniões de equipe em que falam de seus pontos de vistas. Depois temos que escolher. Quando as discussões funcionam e se chega a um acordo, há um consenso. É o acordo normativo que vale para toda a equipe. A cooperação depende dessa construção, produção de regra – atividade deôntica”, afirma o teórico.

Realização

O evento – “Sofrimento no trabalho hoje: possibilidades de intervenção e resistência” – foi organizado pela professora do Departamento de Saúde Clínica e Instituições da Unifesp da Baixada Santista, Laura Camara Lima. Para a realização, contou com a parceria da FAPESP, da Fundacentro Baixada Santista, da RENAST, CEREST, da Prefeitura de Santos, do Sindicato dos Siderúrgicos e Metalúrgicos da Baixada Santista e da CIST Santos.