11/03/2015 - Por: Revista Proteção
Vinte e quatro horas ligado. Qualquer chamada telefônica fazia o analista de sistema Antônio Custódio Alves Neto ir para a empresa para resolver problemas de programação de computadores. Até que um dia, foi diagnosticado com depressão e foi obrigado a parar tudo. "A pressão e a cobrança eram constantes. Eu ficava aguardando uma chamada e ficava naquela tensão terrível, até que caí numa depressão".
Dados obtidos com exclusividade pela CBN mostram que, em 2014, o INSS pagou auxílio-doença por transtornos mentais e comportamentais para pouco mais de 220 mil pessoas. Atualmente, esses problemas são a terceira causa de longos afastamentos do serviço por doença, ficando atrás das LER/ DORT.
Para o médico-psiquiatra Luis Altenfelder Filho, autor do livro "Doença mental - um tratamento possível", as características da vida moderna proporcionam o surgimento destes distúrbios. "Morar numa cidade grande com todas as dificuldades, com o aumento da violência e cUsto de vida levam as pessoas a desenvolverem distúrbios como depressão, ansiedade e quadro de doença do pânico".
A Organização Mundial da Saúde estima que os transtornos mentais atingem cerca de 700 milhões de pessoas no mundo, representando 13% do total de todas as doenças. No topo da lista, figuram patologias como depressão e ansiedade. No ano passado, o INSS pagou auxílio-doença para 83.237 brasileiros diagnosticados com este quadro.
Nesta semana, um estudo divulgado pela Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico chamou a atenção para o problema. De acordo com a pesquisa, uma em cada duas pessoas irá sofrer algum distúrbio psicológico durante a vida.
O principal obstáculo ao tratamento é o preconceito que ainda existe em relação à saúde mental. As pessoas têm medo de serem diagnosticadas. Além disso, muitos profissionais nem sempre reconhecem os transtornos de saúde mental e a necessidade do tratamento. As mulheres com alta escolaridade são o perfil predominante entre os afastamentos. No entanto, o autor da pesquisa alerta para uma distorção, porque o público feminino tem maior cuidado com a saúde.
O especialista em medicina do trabalho João Silvestre da Silva Júnior, que também é perito do INSS, ressalta a importância de preparar o ambiente de trabalho para recepcionar as pessoas após a licença médica. "É preciso acompanhar essa pessoa ao longo do tempo. Não é colocá-la de volta às funções, sem fazer um acompanhamento médico. Caso contrário, a pessoa tem o grande risco de ter uma recaída".
Diante do aumento dos transtornos mentais no mundo corporativo, entidades internacionais como a OCDE e a Organização Internacional do Trabalho defendem a realização de uma política coordenada nas áreas do emprego, saúde e educação.