22/10/2021 - Por: G1 - Globo.com EU ATLETA

Estudo desenvolvido na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP) aponta que a ingestão de compostos bioativos, nutrientes encontrados em alimentos de origem vegetal, como frutas, hortaliças, leguminosas e cereais, pelos brasileiros está aquém do recomendado. Em contrapartida, seu consumo está associado a diversos benefícios à saúde, incluindo a prevenção de doenças crônicas, dadas as suas ações antioxidante, anti-inflamatória, vasodilatadora e anticarcinogênica. O estudo analisou os dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 2008-2009) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), reunindo informações de 34.003 brasileiros com 10 anos ou mais de idade, e demonstrou que o consumo é inferior a países europeus e aos Estados Unidos. Para conhecer esse quadro, o EU Atleta conversou com a nutricionista Renata Carnauba, responsável pela pesquisa de doutorado cujos resultados foram publicados no British Journal of Nutrition.

Em sua pesquisa, Carnauba avaliou o consumo das principais classes de compostos bioativos, os polifenóis, carotenoides e glicosinolatos, pela população brasileira. A nutricionista afirma que as médias de consumo desses compostos estão entre as mais baixas do mundo. Populações Europeias, como da França, Espanha, Finlândia e Itália, consomem o dobro ou mais. Segundo o estudo, no Brasil, a ingestão média de carotenoides foi de 1,8 mg/1000kcal por dia, enquanto que na Espanha e Estados Unidos, por exemplo, 5,9 mg e 7,4 mg, respectivamente. Já o consumo diário de compostos fenólicos no País ficou em torno de 204 mg/1000kcal, contra 820 mg na França, 863 mg na Finlândia e 1.492 mg no Japão. Por fim, no caso do glicosinolatos, o resultado foi ainda mais baixo. O consumo médio desse composto bioativo entre os brasileiros foi próximo a zero. Quando observados os dados das populações da Espanha e da Holanda a ingestão diária foi de 6,5 mg e 14,2 mg, respectivamente.

Principais fontes

  • Carotenoides: alimentos que atuam no combate aos danos oxidativos e, em alguns casos, são precursores da vitamina A, eles são responsável pela coloração amarela, laranja e vermelha de vegetais como mamão, goiaba, tomate, melancia, abóbora e cenoura;
  • Polifenóis (ou compostos fenólicos): um pouco mais diversos, esses compostos antioxidantes e anti-inflamatórios estão presentes em frutas, principalmente açaí, uva, morango, amora, mirtilo, maçã e laranja, além de alimentos omo soja, cacau, chá, café e vinho;
  • Glicosinolatos: têm ação anticarcinogênica e são encontrados em um grupo específico de verduras, as brássicas, como couve, couve-flor, brócolis, repolho, rúcula, agrião, nabo, rabanete;
  • Fitosteróis: gorduras produzidas pelas plantas e presentes em óleos vegetais, sementes, grãos, frutas e hortaliças, especialmente na soja, em frutos oleaginosos e nos óleos vegetais, como os canola, arroz e girassol. Competem com o colesterol da alimentação e diminuem a absorção intestinal do colesterol ruim, o LDL, tendo importante fator de proteção para o coração.

A nutricionista pondera que o baixo consumo desses compostos pelo brasileiro ressalta a baixa qualidade de sua alimentação, muito pobre em alimentos de origem vegetal. No país, a ingestão média desses nutrientes é duas vezes menor do que os valores encontrados em estudos epidemiológicos sobre a redução dos riscos de desenvolver problemas como diabetes, doenças cardiovasculares e câncer. Carnauba lembra que a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o consumo de 400 g por dia de frutas, verduras e hortaliças, que correspondem cinco porções, pelo menos cinco vezes na semana, para a diminuição das chances de desenvolver de doenças crônicas. No entanto, menos de 10% dos brasileiros consomem essa quantidade.

De acordo com a pesquisa, o fator renda influencia na ingestão de compostos bioativos. Seja no Brasil ou no mundo, o consumo de carotenoides, compostos fenólicos e glicosinolatos é maior entre os indivíduos nas faixas de renda mais altas. Porém, os hábitos e as preferências alimentares também têm impacto nesse quadro. Nesse contexto, Renata Carnauba chama a atenção para a dieta ocidental, que é muito baixa em alimentos de origem vegetal, como frutas e hortaliças, as fontes alimentares de compostos bioativos.

– Essa é justamente a principal justificativa para o baixo consumo de compostos bioativos pela população brasileira. Com o passar dos anos, o brasileiro vem diminuindo o consumo de frutas, hortaliças e de alimentos tradicionais, como arroz e feijão. Em contrapartida, o consumo de alimentos ultraprocessados, ricos em açúcares e gorduras, tem aumentado muito – observa a nutricionista.

Atletas, atenção!


Renata Carnauba, que também é pós-graduada em Nutrição Clínica Funcional, reitera a importância dos compostos bioativos para a saúde. Segundo a nutricionista, os carotenoides, polifenóis e glicosinolatos estão presentes em pequenas quantidades em alimentos vegetais, mas quando consumidos na alimentação em quantidades significativas e frequentemente estão associados a diversos benefícios.

– Eles são compostos antioxidantes, anti-inflamatórios e auxiliam na eliminação de toxinas pelo nosso organismo. Por meio dessas ações, modulam vias metabólicas relacionadas ao menor risco de doenças crônicas, como diabetes, hipertensão, doenças neurodegenerativas e alguns tipos de câncer – explica a nutricionista.

Considerando as propriedades desses nutrientes, ela ressalta a importância da presença dos compostos bioativos na dieta de pessoas que praticam esportes ou exercícios físicos regularmente. Como estão sujeitos a um aumento da produção de radicais livres e danos musculares por conta de uma rotina de treinos intensa, atletas precisam garantir um aporte de alimentos com funções antioxidantes e anti-inflamatórias. Em alguns casos, dependendo do histórico, hábitos alimentares e nível de atividade do atleta, pode ser recomendada suplementação para a recuperação muscular e diminuição da dor associada ao exercício. Porém, de uma forma geral, para ajudar a reduzir o estresse oxidativo e inflamações devem aumentar o consumo dos alimentos de origem vegetal no dia a dia.

– Nesse cenário, os compostos bioativos podem reduzir inclusive a dor muscular pós-exercício. Por isso, estão associados também à melhora do desempenho físico. Assim, uma alimentação rica em compostos bioativos é uma estratégia preventiva contra os danos gerados pela atividade física – conclui a nutricionista.

Fonte: Renata Carnauba é nutricionista, doutora e pós-doutoranda em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-graduada em Nutrição Clínica Funcional.