19/10/2021 - Por: G1 - Globo.com EU ATLETA

Dia 19 de outubro é lembrado como o Dia Internacional da Luta contra o Câncer de Mama, e o Eu Atleta conversou com uma ginecologista, um endocrinologista e uma nutricionista para explicar a doença que atingiu 2 milhões de pessoas em 2020, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). O câncer de mama ultrapassou o de pulmão, ainda este ano, e se tornou o tipo de câncer mais frequente do planeta. No Brasil, a estimativa do Inca para 2021 é de 66 mil novos diagnósticos e mais de 18 mil mortes. Vamos ainda listar nove alimentos que ajudam no tratamento e prevenção da doença, além de outras atitudes e mudanças de hábitos que também se encaixam como preventivos.

A ginecologista Camila Ramos explica que o câncer é uma doença complexa que envolve inúmeras mudanças na fisiologia celular, que acabam por levar a tumores malignos. A multiplicação de células anormais da mama dá origem ao tumor. A invasão de células tumorais de tecidos adjacentes e órgãos distantes é a principal causa de morbidade e mortalidade para a maioria dos pacientes com câncer de mama.

– Porém, a maioria dos casos que têm um diagnóstico precoce tem uma boa resposta ao tratamento – ressalta Camila.

De acordo com a especialista, não existe uma única causa, mas diversos fatores relacionados ao câncer de mama. Entre eles, estão:

  • Idade - o risco aumenta com o envelhecimento, e é maior principalmente a partir dos 50 anos;
  • História familiar (5 a 10% dos casos);
  • Obesidade;
  • Sedentarismo;
  • Exposição à radiação frequente;
  • Consumo excessivo de álcool;
  • Nunca ter amamentado.

Os principais sintomas são:

  • Caroço (nódulo) endurecido e geralmente indolor (presente em mais de 90% dos casos);
  • lterações no bico do peito (mamilo);
  • Pequenos nódulos na região embaixo dos braços (axilas) ou no pescoço;
  • Saída espontânea de líquido de um dos mamilos;
  • Pele da mama avermelhada, retraída ou parecida com casca de laranja.

Prevenção

Alimentação - Veja lista com 9 alimentos que ajudam:

O médico endocrinologista Yago Fernandes ressalta a importância de uma alimentação equilibrada tanto como prevenção como durante o tratamento, após diagnóstico. Ele afirma que, hoje, mais mulheres estão sobrevivendo ao câncer de mama e que uma das hipóteses mais comuns é a de que mais mulheres estão sendo diagnosticadas precocemente. Outra possibilidade é que, segundo revisão sistemática publicada no American Institute for Cancer Research (AICR), a dieta das pacientes com câncer de mama está diretamente ligada à sua sobrevivência.

– Os últimos estudos descobriram que, em geral, as sobreviventes do câncer de mama que comem uma dieta rica em vegetais e pobre em sucos de frutas e carboidratos têm um risco menor de morrer durante uma média de quase 12 anos após o término do tratamento. Não é exatamente o suco de fruta o problema, e sim o pico glicêmico que ele provoca. Assim como os carboidratos. Dependendo da quantidade ingerida de carboidrato, acontece o aumento de glicose no sangue, o que leva o pâncreas a liberar insulina. O que pouca gente sabe é que insulina é um hormônio anabolizante, impulsionado pelo ambiente inflamatório, provocado pelo excesso de carboidratos, que promove o crescimento do câncer – acrescenta.

Segundo o estudo, o consumo de frutas por si só não apresentou relação com a mortalidade. O endocrinologista lembra que isso fica evidente quando se compara com mulheres que fazem uma dieta anti-inflamatória rica em fibras. Elas vivem em média 20% a mais do que mulheres que não fazem a dieta.

Para a nutricionista Luna Azevedo, a nutrição é um aspecto essencial da existência e, se comprometida, o corpo pode ficar vulnerável às infecções, doenças cardiometabólicas ou até mesmo ao câncer. Nesse caso, alguns alimentos e bebidas podem ser vetores de substâncias específicas que atuam como carcinogênicas.

– A exemplo, temos as bebidas alcoólicas, nas quais o maior consumo de etanol (álcool) pode induzir o estresse oxidativo por meio do aumento da produção de espécies reativas de oxigênio, que são genotóxicas e carcinogênicas, como o acetaldeído (metabólito tóxico da oxidação do etanol), que é carcinogênico para as células do nosso cólon. Indo além, o álcool também pode atuar como um solvente para a penetração celular de carcinógenos ou interferir nos mecanismos de reparo do DNA – explica Luna.

De acordo com a nutricionista, o próprio Fundo Mundial de Pesquisa do Câncer e o Instituto Americano de Pesquisa do Câncer orientam que devemos fazer com que os grãos integrais, vegetais, frutas e leguminosas (como feijão e lentilha, por exemplo) sejam uma parte significativa da nossa alimentação diária normal. Esses alimentos nos protegem contra o processo de formação de células cancerígenas e dão combustível necessário para que nosso corpo se mantenha saudável, beneficiando o controle do peso. Ainda nessa recomendação, alguns objetivos são traçados por especialistas no assunto, como por exemplo:

  • Consumir alimentos que forneçam pelo menos 30g por dia de fibra ao dia;
  • Incluir alimentos que contenham grãos integrais, vegetais, frutas e leguminosas, na maioria das refeições;
  • Fazer refeições ricas em todos os tipos de alimentos vegetais, incluindo pelo menos cinco porções (ou pelo menos 400g) de uma variedade de frutas e vegetais todos os dias;
  • Se você comer raízes e tubérculos com amido como alimentos básicos, comer também vegetais, frutas e leguminosas (leguminosas) sem amido regularmente, se possível.

– Os grupos de alimentos recomendados nos fornecem diversos micronutrientes, assim como uma variedade de fitoquímicos com atividade bioativas benéficas para o ser humano, como as fibras dietéticas, carotenoides, ditioltionatos, isotiocianatos, flavonoides e fenóis, que são fitoquímicos que demonstraram efeitos anticancerígenos em estudos. Frutas, vegetais e leguminosas também são uma fonte rica de vários nutrientes que podem afetar o risco de câncer, como vitaminas C e E, selênio e folato, uma vez que estes nutrientes demonstraram efeitos antitumorigênicos em várias células em modelos animais e in vitro. Quanto menos ingerimos frutas e vegetais, mais observamos impactos sistêmicos como a deficiência de folato, baixa ingestão de fibras e de carotenóides e vitaminas, principalmente, e isso afeta nossa função celular pelo estresse oxidativo e inflamação, que causam uma instabilidade genômica, apoptose reduzida, inflamação aumentada, entre outras características afetadas que vão aumentar a suscetibilidade ao câncer – explica Luna.

9 alimentos específicos para a prevenção de câncer de mama:

  1. Brócolis: chamado de alimento quimiopreventivo, o brócolis, assim como diversos alimentos da cadeia crucíferas como a couve, rúcula, agrião, couve-flor, mostarda, é um vegetal rico em glicosinolatos - substância que após passar pelo processo de hidrólise enzimática (no caso da ingestão, a mastigação promove esse processo), se transforma em sulforafano, que já provou ser um dos agentes quimiopreventivos mais potentes que agem dentro das células, e em Indol-3-Carbinol, fitonutriente que funciona como antitumoral, anti-inflamatório, antineoplásico e antioxidante.
  2. Cenoura: alimento eficaz por possuir betacaroteno, que protege o DNA contra a oxidação, além de ajudar a evitar a formação de radicais livres. Outros alimentos fontes de betacarotenóides são abóbora, mamão, laranja, pimentão, tomate e couve.
  3. Berinjela: antioxidante, anti-inflamatória, rica em proteínas, cálcio, fósforo, ferro, potássio e vitaminas A, C e do complexo B. É uma aliada ao bom funcionamento das funções vitais, e auxilia principalmente na prevenção do câncer e estimulação do sistema imunológico. Suas fibras reduzem a ação de gorduras sobre o fígado e são ideais para o bom funcionamento intestinal.
  4. Tomate: alimento fonte de licopeno, carotenóide que possui alto grau de proteção contra a oxidação celular, ou seja, reduz a lesão oxidativa no DNA, o que modula a expressão de muitos genes importantes para o controle do ciclo celular, como a reparação do DNA e a apoptose, que nada mais é do que um processo ordenado de morte celular, de células cancerígenas. Além disso, também age na oxidação do colesterol, auxilia na prevenção do câncer de próstata, estimula a secreção gástrica e depurativa do sangue, auxilia no tratamento da pele, gota, reumatismo e prisão de ventre.
  5. Pimenta: adicionar a pimenta às refeições previne não só o câncer, como problemas de diabetes e coração. A capsaicina da pimenta tem atividade anti-inflamatória e analgésica, podendo ser utilizada para o tratamento de dores causadas por doenças reumáticas. O composto também tem efeito antioxidante e protetor do sistema cardiovascular, com propriedades anticarcinogênicas, reduzindo a proliferação e induzindo a apoptose em uma linha de células cancerígenas.
  6. Semente de linhaça: além de ter nutrientes básicos como carboidratos, proteínas, gorduras e fibras, seu uso contínuo pode proporcionar aumento da defesa do organismo e redução do ritmo de envelhecimento celular. Também apresenta funções antioxidantes e anticancerígenas por ser rica em lignanas, que possuem papel protetor no câncer de mama (CM) em decorrência da diminuída das principais formas ativas entre os portadores de CM e os com alto risco de desenvolverem a doença;
  7. Laranja: aliada na prevenção do câncer, a fruta possui em sua composição a substância D-limoneno, que contribui para a redução do metabolismo de células cancerígenas e estimula o processo de desintoxicação do organismo, que inibe o aparecimento dessas células e auxilia na prevenção de cânceres como os de pulmão, mama e pele.
  8. Chá-verde: queridinho e superpresente nos planos alimentares, o chá verde não só tem a função de acelerar o metabolismo, como a de evitar a formação de coágulos nas artérias. A bebida, que é rica em antioxidantes, também atua na prevenção do câncer devido ao polifenol galato de epigalocatequina (EGCG), uma catequina potente na modulação de histonas em células cancerígenas, com potencial quimiopreventivo de inflamação crônica.
  9. Soja: devido aos seus diversos compostos fitoquímicos, como o alto teor de isoflavonas, apresenta atividade antitumoral, principalmente no surgimento dos cânceres de próstata e de mama; uma isoflavona em específico, a genisteína, tem sido motivo de muitos estudos, por ter a capacidade de inibir diversas enzimas envolvidas em processos de carcinogênese. Uma baixa incidência de câncer de mama é encontrada em populações orientais, onde o consumo diário é em média de 28-80 mg de genisteína, em sua grande maioria derivados da soja.

Amamentação, exercícios, mamografia

A ginecologista recomenda a amamentação e a prática regular de exercícios físicos como fatores protetores contra o câncer de mama. Além disso, manter a realização da mamografia anual e procurar imediatamente um especialista caso note algo diferente na mama durante o auto exame das mamas. O endocrinologista Yago Fernandes ressaltou a importância do exercício físico como prevenção da doença. Segundo ele, essa costuma ser uma dúvida muito recorrente em pacientes que recebem o diagnóstico de câncer de mama: se pode fazer atividade durante o tratamento.

– A resposta é: não só podem, como devem! Segundo artigo científico publicado na revista Nature, cerca de 12% poderiam ter a vida poupada se praticassem atividade física regularmente, por apenas 150 minutos por semana. A atividade física melhora o metabolismo de alguns hormônios relacionados com o câncer de mama, como glicose e insulina, melhorando o ambiente inflamatório. Além de diminuir o sobrepeso, um dos principais fatores de morte para pacientes com câncer (cerca de 6,5%) – afirmou.

Anticoncepcionais e terapia de reposição hormonal


Uma pesquisa publicado pela The New England Journal of Medicine revelou que a cada 100 mil mulheres em uso de algum anticoncepcional hormonal, 68 apresentaram casos de câncer de mama. Em comparação a 55 novos casos em mulheres que não usavam nenhum controle de natalidade hormonal.

– Não existem grandes distinções entre o método de contraceptivos orais combinados, progestina isolada ou DIU hormonal. Mais uma vez a questão é avaliar risco/benefício. Antigamente, as pílulas anticoncepcionais tinham mais estrogênio do que as versões mais atuais. Uma boa ideia é tentar trocar para métodos não hormonais depois de usar um contraceptivo hormonal há anos. Já que sabemos que o tempo interfere diretamente no aumento dos riscos para o câncer de mama – reforça o endocrinologista Yago.

O médico ainda explica que, para muitas mulheres, a terapia de reposição hormonal é recomendada para aliviar os sintomas comuns da menopausa, um momento em que a produção de estrogênio e progesterona começa a cair nos ovários, podendo levar a sintomas graves, como queda da produtividade, diminuição da massa óssea, insônia e ondas de calor repentinas. O tratamento consiste no uso de estrogênio sozinho — geralmente para mulheres cujo útero foi removido — ou combinado com a progestina. No entanto, a terapia pode ter um efeito de aumento de risco de desenvolvimento de câncer de mama, o que torna importante que seja feita com acompanhamento criterioso, avaliando o histórico de saúde e familiar de cada mulher e por um período de tempo restrito.

– Talvez a preocupação com o câncer de mama tenha privado milhões de mulheres de um tratamento eficaz para os sintomas da menopausa. Nós, médicos, devemos ter um olhar cuidadoso ao comparar riscos e benefícios do início da terapia de reposição hormonal para cada mulher – alertou Yago.

Tabagismo

Não fumar e evitar outras exposições ao tabaco e ao excesso de sol também são ações importantes para reduzir o risco de câncer.

- Vale ressaltar que é fundamental ter um padrão de comportamentos relacionados à alimentação, à atividade física e a outros fatores associados ao modo de vida para que, juntos, possamos desfrutar dos benefícios para a proteção contra o câncer de diversos tipos, além da qualidade de vida para viver bem até a velhice, sem depender de medicamentos ou aparelhos – reforça a nutricionista.