10/05/2018 - Por: O Globo On
O salto do preço do petróleo é uma faca de dois gumes para a economia mundial. Com a valorização de 14% do barril apenas este ano, cotado ao maior valor desde 2014, países que exportam a commodity são favorecidos pela conjuntura inesperada, enquanto nações majoritariamente consumidoras do produto sofrem as consequências.
Mas, no fim, tudo depende das razões que estão alçando o petróleo às máximas: se um choque de petróleo é negativo quando ocorre por causa de oferta escassa da commodity, cotações mais elevadas devido a uma demanda robusta podem ser reflexo de crescimento global mais sólido. A decisão do presidente Donald Trump de retirar os Estados Unidos do acordo nuclear com o Irã representa uma nova incerteza sobre a a trajetória do petróleo, embora economistas acreditem que esse e outros choques similares de oferta respondam por apenas metade da recente alta do petróleo.
De qualquer maneira, há ganhadores e perdedores, especialmente entre economias emergentes. Países que dependem de energia importada serão pressionados pela alta de custos, pela inflação mais acelerada e pelo desequilíbrio na balança de pagamentos. Já as nações exportadoras ficarão com os cofres mais cheios.
O que a alta do petróleo significa para o crescimento global?
A economia mundial vive seu mais abrangente movimento de expansão desde 2011, e preços mais altos de petróleo vão pesar sobre a renda e os gastos das famílias. Mas o impacto será variado. A Europa está vulnerável porque o crescimento e a atividade industrial já demonstram sinais de arrefecimento, e muitos dos países da região são importadores de petróleo. A China é a maior importadora da commodity e deve esperar uma aceleração da inflação — já se espera que os preços subam 2,3% em 2018, contra 1,6% em 2017.
Mas, para que ocorra um impacto significativo sobre o crescimento global, economistas afirmam que o petróleo precisaria subir mais e se manter nesse patamar por bastante tempo. Efeitos sazonais costumam fazer com que os custos da energia subam durante a primeira metade do ano e caiam no segundo semestre. As famílias também podem alterar seus hábitos de consumo para atenuar o impacto no bolso, optando, por exemplo, pelo gás natural ou por biocombustíveis.
Quem ganha com a alta do petróleo?
Grande parte dos maiores produtores de petróleo são economias emergentes. A Arábia Saudita lidera, produzindo o equivalente a 21% do seu Produto Interno Bruto (PIB) (número referente a 2016) — mais que o dobro do percentual da Rússia, que aparece na segunda posição em uma lista de 15 grandes países emergentes compilada pela Bloomberg Economics. Entre os outros ganhadores estão Nigéria e Colômbia. O aumento das receitas ajudará a tapar déficits orçamentários e de conta-corrente, permitindo a esses governos elevar gastos e estimular investimentos.
Quem perde?
Índia, China, Taiwan, Chile, Turquia, Egito e Ucrânia são aqueles que inspiram cuidados. O custo maior com o petróleo pressiona suas contas-correntes e torna essas economias mais vulneráveis à elevação dos juros nos EUA. Analistas da RBC Capital Markets criaram um índice de “sensibilidade ao petróleo” para avaliar quais são as economias mais vulneráveis na Ásia. Segundo eles, Malásia, Tailândia, China e Indonésia podem enfrentar maior volatilidade por causa da disparada da cotação do barril.
O que a alta da commodity significa para a economia dos EUA?
A escalada de preços representa hoje um risco muito menor do que no passado para os EUA, graças ao crescimento da produção do “shale gás” (gás de folhelho). Antigamente, os economistas entendiam que o encarecimento em US$ 10 do barril do petróleo comprometia 0,3 ponto percentual do PIB americano no ano seguinte. Hoje, Mark Zandi, economista-chefe da Moody’s Analytics, calcula que o impacto é de apenas 0,1 p.p.. E esse impacto ainda tende a ser anulado no longo prazo com a consequente elevação da produção do “shale gas” motivada pelos preços mais atraentes.