22/09/2015 - Por: Portal G1

Em 2014, dois mil motoristas foram diagnosticados com estresse e depressão

Todo dia, quem trabalha nos ônibus das grandes cidades fica exposto a um ritmo intenso, enfrentando congestionamentos e muitas vezes a violência. Problemas que acabam se refletindo no comportamento dos motoristas e cobradores.

No fim de agosto, dois ônibus batem no Rio de Janeiro. Um simples acidente até que a confusão começa. O motorista joga pedras no ônibus parado. Os passageiros descem assustados. O outro motorista dá ré e quebra o pára-brisa.


Em São Paulo, um motorista atira num passageiro que não queria pagar a passagem. O motorista fugiu, mas é preso depois. Joaldo Santos de Jesus, de 43 anos, foi levado para o hospital.

Em Minas Gerais, uma pessoa queria descer fora do ponto em Belo Horizonte, mas o motorista negou. O passageiro tirou a chave da ignição. Com uma barra de ferro, o motorista partiu para cima do vendedor de balas. Duas horas depois, o baleiro apedrejou o ônibus com um grupo. Os passageiros tentavam se proteger. Na fuga, o motorista atropelou e matou o baleiro.

As cenas mostram a que ponto chega o descontrole dos trabalhadores, mas eles também são vítimas da violência. Um motorista ficou cego de um olho depois de uma briga com um passageiro. “Vai estressando porque é muita pressão. É pressão do passageiro, pressão da empresa, dos órgãos de trânsito”, conta o motorista.

Dados da Previdência mostram que 23.500 trabalhadores do transporte rodoviário coletivo se afastaram por problema de saúde no ano passado. Dois mil deles dirigem nas cidades e estavam com estresse e depressão. Número cinco vezes maior do que quem trabalha nas estradas.

O excesso de horas extras foi um dos problemas encontrados pelo Ministério do Trabalho, em fiscalizações durante quatro anos, em Belo Horizonte.

“Todo cansaço do trabalhador pode se refletir no trabalho dele, então esse estresse, o maior número de horas trabalhadas ele pode ter um menor, uma menor atenção e isso causar acidente inclusive prejudicando o usuário do transporte público”, diz o chefe da seção de Saúde e Segurança do Ministério do Trabalho, Marcos Henrique da Silva.

A trocadora de ônibus, Fernanda Vitor Souza, vive à base de remédios e está afastada do trabalho há dois anos e meio depois de cinco assaltos.

“Um apontou um revólver pra mim, o outro apontou pro motorista, começou a puxar meu cabelo arrastando pelo ônibus, várias coronhadas na cabeça. Esse trauma ficou marcado”, conta Fernanda.

Em nota, a associação que representa as empresas de ônibus disse que oferece curso de reciclagem para cobradores e motoristas, além de ajuda psicológica quando necessário.