17/04/2019 - Por: ANAMT

De acordo com o ISMA, a degradação da saúde dos trabalhadores está em ritmo acelerado com a escassez de oportunidades de recolocação (Google Search Engine)

O brasileiro está ficando cada vez mais doente no ambiente de trabalho. É isso o que constatou um estudo da International Stress Management Association (Isma), entidade especializada no tema. No ano passado, um em cada três trabalhadores sentiu na pele os efeitos danosos do estresse, perdendo apenas para os trabalhadores do Japão – onde 70% dos cidadãos em idade economicamente ativa se declaram estafados com a jornada profissional.

Há 10 anos, o país não estava no top 10 do ranking. Além do desgaste físico, essa triste realidade tem aumentado o número de acidentes. Nos Estados Unidos, estima-se que até 80% dos acidentes de trabalho estão relacionados com o estresse, e o seu custo total é de US$ 200 milhões a US$ 300 milhões por ano. Nesse custo, incluem-se os gastos com as faltas dos funcionários, licenças para tratamento da saúde, redução da produtividade, despesas de seguro-saúde e ações de indenização dos trabalhadores que processam as empresas por terem adoecido.

No Japão, o estresse motivado pelo excesso de trabalho é responsável por cerca de 10 mil mortes por ano. No Reino Unido, a estimativa é que 17% de todas as faltas ao trabalho se devem a situações provocadas pelo estresse, o que resulta em custo de 2% do total do Produto Interno Bruto (PIB), pelos mesmos motivos apontados nos Estados Unidos.

De acordo com especialistas, a degradação da saúde dos trabalhadores está em ritmo acelerado pois, além da crise que atinge as empresas, há escassez de oportunidades de recolocação.

“A pressão vem por todos os lados, desde cargas excessivas a ambientes mais competitivos”, afirma o economista José Afonso, da Fundação Getulio Vargas (FGV). “Em tempos de crise econômica, a ameaça latente de desemprego tem gerado reflexos diretos na saúde do trabalhador. Nesse cenário turbulento, trabalhadores, mesmo doentes em decorrência de sobrecarga e ambientes de trabalho estressantes, tentam manter seus empregos, temendo ser substituídos caso peçam algum tipo de afastamento.”

Considerado o mal deste século, o estresse é o grande catalisador do surgimento de doenças psicológicas. Isso ocorre porque as pessoas não conseguem lidar com a grande pressão no ambiente de trabalho e, frequentemente, levam toda a carga negativa para sua vida pessoal.

Um relatório divulgado pela Organização Mundial de Saúde analisou como anda a saúde mental no mundo. Nos últimos 10 anos, o número de pessoas com depressão aumentou 18,4% – hoje, isso corresponde a 322 milhões de indivíduos, ou 4,4% da população da Terra.

Os dados vieram à tona em um relatório recente realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Para piorar, os brasileiros estão levando esses índices para o alto. Por aqui, 5,8% dos habitantes têm sintomas depressivos, a maior taxa do continente latino-americano.

A faixa etária mais afetada está concentrada entre 55 e 74 anos. O relatório ainda atesta que, apesar de a depressão atingir pessoas de todas as idades, o risco se torna maior na presença de pobreza, desemprego, morte de um ente querido, ruptura de relacionamento, doenças e uso de álcool e de drogas.

Desemprego

A maior causa de estresse entre os brasileiros atualmente é o receio de perder o próprio emprego. Essa é a principal conclusão da mais recente pesquisa anual da Isma-BR, instituição que se dedica a investigar o tema. Além da inversão desses dois fatores nas primeiras posições em comparação ao estudo anterior, chama a atenção também que o “desequilíbrio entre esforço e recompensa” subiu da condição de quarto para terceiro principal fator de estresse, deixando para trás os conflitos interpessoais, uma das mais tradicionais fontes de aborrecimentos no cotidiano corporativo.

“O estresse não é sempre inimigo da produtividade, enquanto ele é um estado temporário: quando um colaborador está frente a uma situação desafiadora, devendo entregar uma tarefa num prazo apertado, ou numa negociação importante, o mecanismo nervoso do estresse ajuda o colaborador a poder acessar 100% das suas capacidades cerebrais e mentais, deixando-o num estado de alerta”, afirma Armelle Champetier, diretora da Yogist Brasil, consultoria especializada em bem-estar corporativo.

Mas há o oposto disso. “Porém, se o nível de estresse permanecer alto, ele acaba cansando muito o organismo, além de piorar a qualidade do sono. Um colaborador cansado tem a sua capacidade de concentração diminuída, a sua habilidade de resolver problemas complexos e tomar as decisões certas afetada.”

No Brasil, a depressão tem sido uma das causas de maior afastamento dos trabalhadores no ambiente de trabalho. Estima-se que 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB) é perdido com despesas relacionadas aos males do estresse no ambiente corporativo. Para se ter uma ideia da gravidade, a doença figura em segundo lugar como a que mais tira profissionais de seus cargos, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). Até 2020, a expectativa é de que a doença passe a figurar no topo da lista. O Ministério do Trabalho estima que cerca de 10 milhões de trabalhadores sofram com o problema no Brasil.

Os especialistas classificam como “presenteísmo” as pessoas que seguem trabalhando mesmo doentes, com medo do desemprego. O presenteísmo é um problema organizacional, pois o colaborador está presente fisicamente no trabalho, mas não está produzindo como deveria – o que obviamente afeta os negócios da empresa.

A medicina do trabalho recomenda que consultas periódicas sejam realizadas num prazo de até um ano, mas os prazos podem ser reduzidos nos casos em que estresse e depressão sejam identificados precocemente. A medicina do trabalho deve agir de forma preventiva, mas nem sempre o paciente permite que os sinais de que algo não está bem venham à tona.

Síndrome do burnout

Outra preocupação da medicina do trabalho, com a fragilidade dos profissionais em meio à crise econômica e desemprego, é o desenvolvimento da síndrome de Burnout, ou síndrome do esgotamento profissional. É o termo utilizado para designar o estágio mais avançado de estresse no ambiente de trabalho.

Estar em burnout significa estar preso em uma situação sem saída, quando já se perdeu a noção da dimensão dos fatos. Quando você está a ponto de ter um ataque histérico, ou já teve realmente, você pode estar sofrendo desse mal. Os sintomas sãos, na maioria das vezes, estafa, fadiga e, nos casos mais graves, problemas cardiovasculares, como arritmias e infartos, ou até surtos psicóticos.

O tema tem sido recorrente em congressos de medicina e debates sobre medicina do trabalho, e já é uma grande preocupação para os especialistas da área. Em primeiro lugar, eles recomendam que o funcionário tire férias imediatamente e, em segundo, que faça uma terapia com um profissional da saúde mental. Se o problema não for atacado de imediato, a pessoa pode acabar sofrendo de depressão profunda.

“Com o aumento da competitividade e o panorama de recessão econômica, as empresas, na tentativa de continuar a crescer e ser lucrativas, acabam colocando pressão nos colaboradores, o que faz com que o estresse emocional seja uma constante nos locais de trabalho”, diz Beatriz Moura, psicóloga e especialista em saúde mental pela UFRJ. “A elevação da carga horária e o acúmulo de funções também são atitudes amplamente praticadas por empresas de todo o mundo e que contribuem para o aumento dos problemas corporativos.”