17/10/2018 - Por: rfi / via G1

Em 2011, Georget Luc, 62 anos, foi diagnosticado com um câncer na base da língua. Ele fez quimioterapia, mas, três anos mais tarde, o tumor se espalhou. Os médicos descobriram uma metástase no pulmão e deram poucas esperanças de vida para ele. “Eu estava praticamente condenado”, diz o francês.

Em 2016, seu oncologista propôs que ele tentasse um novo tratamento: a imunoterapia. Desde então, o francês toma injeções quinzenais, que contém os chamados anticorpos monoclonais, proteínas produzidas pelo sistema imunológico, fabricadas em laboratório a partir do clone de uma célula. Elas têm a capacidade de identificar e neutralizar substâncias estrangeiras como vírus, bactérias e células cancerígenas. A proteína se fixa na molécula e possibilita sua eliminação pelo sistema imunológico.

Foi graças a essa terapia proposta a Georget que hoje seu câncer entrou em remissão – quando os médicos consideram que o paciente esta no caminho da cura. Em dezembro ele acaba seu tratamento, que terá durado dois anos. “Quando me propuseram, pensei: é uma nova terapia, tenho que tentar. Então fizemos um protocolo juntos”, conta.

A aposta deu certo. Tão certo que o francês conta que, durante todo esse tempo, continuou trabalhando e não sentiu sintomas que o impedissem de continuar levando uma vida normal. Ele teve sorte. Como a Medicina não é uma ciência exata, a imunoterapia nem sempre funciona e depende do organismo de cada paciente.

Independentemente disso, a mensagem de Georget para outros pacientes que enfrentam a doença é de otimismo. “Há novas terapias chegando ao mercado e podemos tratar o câncer de forma cada vez mais eficaz. O importante é não perder a esperança. A doença afeta muito, principalmente em fase terminal. Tem que ir à luta, ir à luta…”, diz, com emoção na voz. “Tentei viver como uma experiência. Talvez isso tenha sido minha salvação”.

Curas inéditas
O oncologista Christophe Le Tourneau, do Instituto francês Curie, lembra que as pesquisas sobre Imunoterapia, e o papel do sistema imunológico no mecanismo do câncer, começaram há mais de um século. O que é recente, diz, e levou ao prêmio Nobel, é a identificação das proteínas capazes de frear as defesas do sistema autoimune contra a multiplicação das células malignas. Isso levou ao surgimento dos novos tratamentos que ajudam o sistema imunológico a lutar contra o câncer e trazem esperança de sobrevida e de cura aos pacientes.

“As células cancerígenas vão secretar moléculas que vão “enganar” o sistema autoimune, que vão permitir que elas se repliquem, porque ele não entende que há uma ameaça. Com a imunoterapia, vamos estimular o sistema imunológico dos pacientes, que será “reativado” e vai atacar as células tumorais. E totalmente diferente de tudo que tínhamos até agora em cancerologia”, diz o especialista francês.

O novo tratamento é mais uma arma no arsenal clássico de luta contra a doença: cirurgia, radioterapia e quimioterapia. Com a diferença que, até agora, as células cancerígenas eram diretamente atacadas. O novo método “ensina” o corpo a combater sozinho a doença. Por enquanto, explica o oncologista, ele é destinado a cânceres incuráveis. E o mais surpreendente: alguns desses tumores desapareceram depois de dois anos de imunoterapia.

“Eles interrompem o tratamento e continuam bem, em remissão. Isso é que é totalmente novo na imunoterapia. Pacientes sem tratamento continuam em remissão. Algo que não concebíamos com a Quimioterapia. Sabíamos que, se interrompêssemos o tratamento, a doença voltaria”, explica.

Por enquanto, uma minoria de pacientes responde de maneira positiva à Imunoterapia, lembra o pesquisador, dependendo do tipo de câncer. Resultados favoráveis vêm sendo constatados no câncer da garganta, estômago, pulmão e bexiga. Os cientistas agora tentam entender por que esses pacientes reagem bem e o porquê, já que, como ressaltou o méico francês, obter remissões de cânceres graves é uma vitória da Ciência.

Novas pesquisas
Outros métodos estão sendo pesquisados, explica o oncologista francês. Um deles consiste em retirar os glóbulos brancos do paciente e modifica-los geneticamente para que sejam capazes de destruir as células cancerígenas. A estratégia terapêutica, diz Le Tourneau, deu bons resultados em algumas leucemias infantis, mas não em cânceres chamados “sólidos”, como do intestino ou pulmão, por exemplo. O desenvolvimento de vacinas para atacar as células do tumor também estão em curso, mas os resultados ainda não são satisfatórios